confissões de um burguês.

da próxima viagem não contarei nada. será chata. estou farto de viajar. já entro nos aviões enfadado. já não olho pela janela com o mesmo encanto. sem razão. por vezes temos surpresas agradáveis. ainda recentemente vi ao vivo o jogo brasil-frança dos quartos de finais do mundial. o resto é o mesmo. até a excitação de conhecer o vizinho começa a dissipar-se e só me vem uma vontade de trabalhar ou dormir para sentir que afinal o tempo nao é perdido.. na última viagem deixei que lessem o meu trabalho. deixei que fizessem a pergunta de circunstância. expliquei o que fazia. para simlpificar o discurso disse que a epilepsia não era nada do outro mundo, que na verdade todos podiamos ter epilepsia de vez em quando. mas isto foi depois de ter dito que eu só trabalhava com casos bicudos.. casos perdidos.. com alterações de desenvolvimento.. gente com vidas transformadas por uma excitabilidade estranha.. este discurso foi anterior a um outro que foi anterior ao primeiro. esse discurso do meio não foi meu. foi dela. foi um discurso curto. dizia apenas: eu tive epilepsia.